Com a conquista do 6º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, entregue na noite desta segunda-feira, 26 de outubro, Cristovão Tezza está conseguindo realizar um sonho: ser somente escritor. O prêmio oferecido pela 13ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo/RS no valor de R$ 100 mil, além de outros também com quantias consideráveis conquistados com o romance autobiográfico “O filho eterno”, possibilitaram ao autor pedir o desligamento da universidade paranaense onde há mais de 20 anos atua como docente. “Este será meu último semestre como professor. Desde os meus 13 anos resolvi ser escritor, mas também precisava arrumar uma maneira de ganhar dinheiro. Agora consegui, e esse dinheiro terá que durar a minha vida toda”, garantiu Tezza, com bom humor, durante entrevista coletiva a imprensa.

Em relação ao sucesso com “O filho eterno”, o escritor admite que não esperava tanta repercussão positiva. Para ele, a obra teria um apelo da crítica literária bem diferente do que o levou a ganhar tantas premiações. “O livro era muito pessoal e estava com medo da crítica. Não estava com muita expectativa positiva, mas a obra foi um sucesso de vendas, chegando a mais de 30 mil exemplares vendidos, algo surpreendente no Brasil”, comemorou o autor. O romance teve como linha mestre a sua autobiografia, mas é uma obra ficcional. Aos 57 anos, Tezza afirmou que a enxurrada de prêmios veio no momento certo, além de deixá-lo mais a vontade para escrever. “Estava com meu projeto acadêmico esgotado, com a cabeça em outra direção”, comentou.

Um lançamento para 2010
Com 2/3 do seu novo livro prontos (“Um erro emocional” - nome provisório), o escritor segue uma rotina para escrever. De segunda a sexta-feira, no máximo uma página e meia por dia. “Estou na fase do entusiasmo, senão meia página por dia. Um romance tem que se construir todo dia”. Ele pretende entregar a nova obra para a editora no início de 2010.

Sobre o mercado literário no país, Tezza explicou que atualmente há melhor possibilidades do que na década de 1980, por exemplo. “A internet é uma alavanca fenomenal para divulgar literatura. Antes só os cadernos especializados davam espaço, mas logo em seguida não era mais divulgado. O Brasil também melhorou muito para o escritor. Hoje tem quase um evento semanal sobre literatura no país.”, frisou.

Para o autor, aliás, a internet será em longo prazo uma impulsionadora para novas obras literárias. “Com a TV ninguém precisava ler, apenas recebia as palavras. Mas com a internet não. Além de ler, quem quiser se comunicar precisa escrever. A palavra voltou a ter um papel importante”, explicou. Ainda de acordo com Tezza, o livro no formato PDF será realmente inserido na sociedade, mas não trará mais leitores de romances. “Isso não fará as pessoas gostarem mais desse tipo de livro”.

O filho eterno
O romance é baseado em fatos da vida do autor. A narrativa começa nos anos 80 com um aspirante a escritor com ideais libertários que não aceita o fato de seu filho ter nascido com síndrome de Down. No começo, ele rejeita e menospreza a criança e chega a desejar a morte do menino. O protagonista vai trabalhar como professor universitário e carrega a amargura pela síndrome do filho. Pouco a pouco, a relação se transforma.