28/10/2009 - 13:35

Bandeira, Drummond e Cabral em debate no Encontro da Academia Brasileira de Letras


Foto: Cláudio Tavares
Poeta falou dos clássicos Bandeira, Drummond e Cabral
Pedro Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e as afinidades entre eles. Para entender essa relação, nada melhor do que ter uma aula com quem entende do assunto. Na manhã desta quarta-feira, 28 de outubro, Antonio Carlos Secchin foi o professor. O escritor e acadêmico participou do segundo debate do 3º Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras: revisitando os clássicos III. Poetas em família: Bandeira, Drummond e Cabral foi o tema abordado por ele. O encontro se insere na programação da 13ª Jornada Nacional de Literatura, que acontece até o dia 30 de outubro no Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Os encontros da Academia Brasileira de Letras acontecem desde 2005. A idéia surgiu a partir da necessidade de aproximar os acadêmicos do público e incentivar a leitura de clássicos da literatura. Secchin é poeta, ensaísta e crítico literário. É membro da Academia Brasileira de Letras desde 2004, ocupando a cadeira de número 19. Em sua conferencia, abordou a relação que há entre os três nomes clássicos da literatura: Bandeira, Drummond e Cabral.

Na opinião de Secchin, a relação pode ter três motivos. O primeiro e mais aceito é a importância que a família exerce nos versos de cada um dos poetas. A segunda hipótese é a de que todos os autores pertencem à mesma família. No entanto, ele acredita que Cabral, enquanto anti-lírico, não se reconhece na linha de Bandeira, um lírico. Na linha de Drummond, apesar de se reconhecer, é em apenas algumas produções. Como terceira hipótese e menos significativa, a relação seria estabelecida por laços de sangue que poderiam existir entre os três. João Cabral de Mello Neto acreditava que todos os pernambucanos eram seus parentes, por isso tinha parentesco com Bandeira, também pernambucano. Mas Drummond foi apenas padrinho de casamento de Cabral.

A família e os autores
A presença da família e dos momentos na infância está explícita em muitas das produções destes poetas. A família surge associada à infância e vinculada às repercussões imaginárias que tiveram neste período. O que difere entre eles é o modo como cada um encara a infância. Os versos geralmente lembram os pais e avós e em menor escala os irmãos.

Para Bandeira, a família é um tópico relevante. A infância dele é mitificada e a relação familiar é vista sob um aspecto sem conflitos, paradisíaca. A intimidade familiar é acolhedora e ele preserva a imagem de um menino. Bandeira se projeta no passado para tentar reviver e trazer para o presente o impacto de algo que já aconteceu com a visão do menino.

Diferentemente, João Cabral de Melo Neto produziu poemas sem nenhuma carga lírica ou emotiva. Seus textos falam de si como um outro, de forma a distanciamente descrever-se no passado. Não usa as figuras de pai e mãe, apenas trata-os como casa grande, por ter nascido em um engenho onde o pai era o senhor e a senzala era distante.

A família ocupa lugar preponderante nos versos de Drummond. Ele trata dos traumas, impasses e tensões deste tema em três fases. Na primeira, trata superficialmente, como uma família tradicional que queria que ele fosse fazendeiro. Contrariando o gosto dos pais, foi poeta. Na segunda fase do Drummond modernista, a família aparece de forma leve e irônica. Já na terceira, há um ajuste de contas com o pai, onde o autor revela amargura e tensão com a figura opressora deste. Em contrapartida, há a figura afetuosa da mãe.

Ao final da manhã de debates, o conferencista Antonio Carlos Secchin foi agraciado com o Troféu Vasco Prado. A obra de arte em bronze homenageia convidados desde 1988.

Próximos encontros
No dia 29, o tema do Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras é Euclides da Cunha. Será apresentado um texto de Arnaldo Nieskier com o tema “Atualidades de Euclides da Cunha” e Murilo Mello Filho vai traçar um esboço biográfico do escritor. Moacyr Scliar também participa com o tema “Euclides da Cunha e o pensamento médico-científico de sua época”. Encerrando as atividades do Encontro, no dia 30 Eduardo Coutinho apresenta o tema “Machado de Assis e Guimarães Rosa: olhares para além de seu tempo”.

Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias