29/10/2009 - 14:14

História, atualidades e o pensamento médico-científico de Euclides da Cunha

 
Penúltimo dia do Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras teve a participação de Murilo Mello Filho e Moacyr Scliar

Foto: Claudio Tavares/UPF
Acadêmicos falaram sobre vida e obra de Euclides da Cunha
Os curtos 43 anos de existência de um grande escritor, jornalista, engenheiro, historiador e poeta foram novamente lembrados durante o 3º Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras – Revistando os clássicos, evento integrante da programação da 13ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. A história, a atualidade e o pensamento médico-científico do autor de Os Sertões, Euclides da Cunha, foram relembrados nesta quinta-feira, 29 de outubro, pelos acadêmicos Murilo Mello Filho e Moacyr Scliar.

A vida de tragédias e conflitos familiares, que culminaram com a morte de Euclides da Cunha em 1909, foi relatada por Murilo Mello Filho. Carioca de nascimento, o homenageado exerceu por um tempo a carreira militar e atuou como engenheiro. Mas foram as letras que o tornaram famoso. Designado para a cobertura jornalística de Canudos, ele viu de perto as mazelas de uma guerra. “Euclides a tudo assiste e descreve. Aliás, ele não se limita a descrever sobre o combate, mas destaca o abandono do sertão do Brasil à época. Seu texto foi um marco referencial na literatura brasileira”, enfatiza Murilo Mello Filho.

Além da Guerra dos Canudos, Euclides da Cunha passou 24 meses em missão na Floresta Amazônica, e segundo Mello, foi um dos pioneiros na batalha contra o desmatamento e os crimes ambientais. Na opinião do acadêmico, a coragem e audácia de linguagem são outros marcos na obra do escritor. “Ele morreu ainda moço, foi ceifado no apogeu de sua potencialidade como escritor”. Mesmo assim, teve tempo de ser eleito para ocupar a cadeira de número sete na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Euclides mudou
No final do século XIX e início do século XX, a medicina estava começando a identificar as causas das doenças. Antes disso, se diagnosticava pouco e a cura era improvável. Nesse contexto, em que as ideias cientificam começam a ter avanços e há grande progresso na medicina, Moacyr Scliar caracterizou Euclides da Cunha. Conforme Scliar, o momento histórico também era de intenso preconceito, de racismo, de ideias equivocadas, que culminaram com os totalitarismos do século XX, o nazismo e o stalinismo. “Houve um momento em que Euclides encampou essas ideias totalitárias, mas em Canudos ele mudou. O fato de ele ter mudado o torna um paradigma do Brasil, porque o Brasil também mudou. Então, a mudança de Euclides da Cunha antecipa a mudança no Brasil”.

Um texto de Arnaldo Niskier, membro da ABL e presidente do CIEE/Rio, sobre Atualidade em Euclides da Cunha, foi disponibilizado aos participantes do seminário. O texto destaca que “no coração do povo brasileiro, a figura do escritor talvez seja de maior importância, principalmente pelo livro Os Sertões, sua principal obra, que além do sucesso entre nós, também foi traduzido para diversos países: Alemanha, China, Suécia, Itália, Holanda, Espanha, Dinamarca, Inglaterra e França”.

Além de Os Sertões, Euclides da Cunha lançou, em vida, apenas duas obras: Contrastes e Confrontos e Peru versus Bolívia. Após sua morte foram lançadas outras nove obras.

Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias