29/10/2009 - 14:28

Meus livros, meus filmes, minha vida mexicana

 
O cineasta e escritor Guillermo Arriaga foi a tração da noite desta quarta (28) na Jornada de Literatura de Passo Fundo, onde falou para um publico de cinco mil pessoas

Foto: Tiago Lermen/UPF
Guillermo Arriaga
Maior atração da 13ª edição da Jornada de Literatura de Passo Fundo, o cineasta e escritor mexicano, Guillermo Arriaga, fez a conferência da noite desta quarta-feira (28), no Circo da Cultura, que ficou completamente lotado. Na sua apresentação, ele falou dos seus filmes e livros, das coisas que inspiram sua produção, da relação entre literatura e cinema e da presença da morte em quase toda a sua obra.

Sobre esse tema especificamente, o cineasta foi categórico: “falo da morte porque vivemos numa cultura que nega a morte, e, ao fazer isso, nega a própria vida. A morte é a única certeza da vida de qualquer pessoa”. Irônico, ele chegou a comentar que até a celulite é um sinal de que a morte está presente.

Questionado sobre os elementos que inspiram sua produção, Arriaga afirmou que toda a sua obra é motivada na sua própria experiência de vida, tendo como pano de fundo a cultura e os problemas sociais do México. “Amores Brutos”, por exemplo, é uma lembrança do seu cachorro. “E mesmo ‘21 gramas’, que foi rodado nos Estados Unidos, e ‘Babel’, com filmagens no Marrocos e no Japão, são baseados em minha vida e na minha visão sobre o México. “Os meninos que atiraram no ônibus, no Marrocos, nada mais são que uma representação das crianças mexicanas”, disse.

Ele não vê diferenças no modo de fazer literatura ou de fazer um roteiro, palavra que, aliás, não gosta de usar. “Quando escrevo, não o faço pensando que aquilo vai virar um filme. Busco fundamentalmente contar histórias. Considero que o ato de fazer cinema é um ato de sedução e o primeiro ato de seduzir é com a forma escrita. A literatura está repleta de “obras visuais” que podem ser levadas para o cinema, mas não foram feitas para isso”.

De qualquer forma, ele não acha, como muitos dizem, que sua obra é fácil de ser adaptada para o cinema. “Pelo contrário, são livros difíceis. Tenho transtorno de déficit de atenção e escrevo de uma forma não-linear, desordenada”, confessou. Talvez esse seja o segredo do sucesso de suas obras.

Personalidade comum em terras brasileiras, Guillermo Arriaga se diz impressionado com a quantidade de eventos literários no Brasil. “Vocês já se deram conta do número de festivais de literatura espalhados pelo país? Reunir cinco mil pessoas em torno da cultura debaixo de uma tenda de circo só acontece aqui”, disse entusiasmado.

Durante a conferência, Arriaga fez questão de fazer uma homenagem especial aos dois jovens que tiveram suas obras póstumas lançadas na Jornada (Roberto Pirovano Zanatta, autor de “Mr. Xadrez em O desaparecimento do diamante” e “O explorador e suas aventuras”, e Pietro de Albuquerque, de “Quem tem coragem?”). “Escrever é uma afirmação da vida e da morte. O ato de escrever é finito, mas a leitura é infinita”.

Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias