29/10/2009 - 19:10

“A internet ajuda, mas ajuda mais os bons leitores”, diz educador francês na Jornada de Literatura de Passo Fundo

 
Em conferência sobre leitura e hipertextualidade, Max Butlen, pesquisador francês na área da Educação, diz que escolas, bibliotecas e professores terão que se adaptar às exigências das novas gerações, aquelas que cresceram ao lado do computador

Foto: Claudio Tavares/UPF
Max Butlen
Para um público essencialmente formado de acadêmicos, o professor Max Butlen, do Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas de Paris, abriu o terceiro dia do Seminário de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural para falar leitura e das diferenças e semelhanças entre o hipertexto literário e a hipertextualidade presente internet. O Seminário integra a 13ª Jornada de Literatura de Passo Fundo e segue até esta sexta-feira (30).

Apesar de o termo hipertexto (relação entre dois ou mais textos) estar mais relacionado à internet, Butlen disse que a ideia pode ser observada em várias obras da literatura tradicional. “A obra indiana “Pañchatandra”, do século V, as fábulas de La Fontaine, o “De Cameron”, de Boccaccio, são exemplos clássicos em que é possível perceber a hipertextualidade”. Há, ainda, conexões entre obras de épocas distintas, como “A Odisséia”, de Homero, e “Ulysses”, de James Joyce, ou, para citar um exemplo da literatura infantil, o personagem do lobo mau que habita “Os três porquinhos” e “Chapeuzinho Vermelho”

É importante destacar que a ideia de hipertextualidade na literatura tradicional não é tão perceptível porque a maioria das pessoas lê um livro de uma forma linear, até porque sua composição é linear. “Mas o leitor mais culto, especialmente, muitas vezes opta por uma leitura não-linear”, explica Butlen. Já o hipertexto informatizado remete à ideia de um texto em formato digital ao qual agregam-se outras informações.

Na polêmica entre os diferentes suportes, Butlen acredita que o mais importante é a leitura. “Assim como as primeiras gerações de e-books, os livros impressos também eram mal resolvidos do ponto de vista estético e da manuseabilidade. Então, esse não será o fator determinante na formação de leitores”, destaca o professor. Ele considera também que o livro tirou bastante proveito das novas mídias e da leitura informativa e documental que existe na internet, sobretudo porque trazem conhecimento para os usuários.

Para o educador francês, um ponto crucial nessa questão é que o bom uso da internet implica um usuário com boa formação educacional, principalmente se considerarmos a qualidade e a credibilidade do conteúdo disponível na internet. “A internet ajuda, mas ajuda mais aqueles que já são leitores, bem formados. É uma ilusão pensar que a tecnologia, como num passe de mágica, vai poder localizar boas fontes de informação para nós na web, ou que o computador vai dizer que determinado texto é pertinente, ou ainda retirar e retrabalhar a informação. Para isso, será fundamental a boa formação”.

Butlen alerta, no entanto, que essa formação não será automática, seja qual for o suporte a ser utilizado. Nesse contexto, a escola terá um papel fundamental e os professores e bibliotecários também terão que se adaptar a essas novas tecnologias, a fim de atender às demandas das novas gerações criadas ao lado do computador e de toda a parafernália tecnológica que estão ao seu dispor.

Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias