30/10/2009 - 18:51

Escritores gaúchos debatem o que fazer com a memória

 
Assunto norteou trabalhos do 2º Encontro Estadual de Escritores nesta sexta-feira (30)

Foto: Tiago Lermen/UPF
Público pode ouvir quatro especialistas no assunto
As peculiaridades da produção literária gaúcha foram novamente debatidas na manhã desta sexta-feira, 30 de outubro, último dia do 2º Encontro Estadual de Escritores Gaúchos. O evento, integrante da programação da 13ª Jornada Nacional de Literatura, teve como tema de encerramento “O que fazer/o que faço com a memória”. Os participantes são figuras já conhecidas: o doutorando em Literatura Brasileira e vencedor do 2º Prêmio São Paulo de Literatura – Autor Estreante, Altair Martins; o jornalista e contista Lourenço Casaré; o romancista Tabajara Ruas; e o jornalista e professor universitário Tau Golin.

As exposições dos quatro especialistas, embora distintas, tiveram em comum a evocação de memórias pessoais, sejam relacionadas às suas vidas particulares ou profissionais. Altair Martins, citando Ivan Izquierdo, afirmou que o importante da memória é esquecer os fatos, “colocá-los na lixeira” para que a máquina volte a andar. De acordo com Martins, é preciso ter cuidado com a memória aprendida quando estão envolvidos acontecimentos emocionais, impressões individuais, já que aquilo que impressiona a um pode não sugerir nada ao outro. “Conseguir se adaptar como leitor e não ser escravo da nossa memória de mundo é o desafio”, disse, enfatizando que perder a memória é perder as noções de estética e afirmando, ainda, que não há literatura sem memória.

Lourenço Casaré, que hoje mora em Brasília, lembrou da infância no sul e dos cafés da tarde, obrigatórios, entre um brinquedo e outro. Ele pontuou a necessidade da coerência entre vivência e escrita. “Não posso escrever sobre a elite de Pelotas, por exemplo, se não tive essa vivência. Noventa por cento dos meus contos se passam num bairro”, considerou. Casaré conta que na medida em que vai escrevendo, vai buscando aquilo que estava esquecido.

Como quase todo o escritor gaúcho, Tabajara Ruas foi leitor dos clássicos de Erico Veríssimo. Mas foi citando o uruguaio Juan Carlos Onetti que expôs seu pensamento sobre a memória. Conforme ele, Onetti reproduziu a cor local dos habitantes da América do Sul. “Nunca li nada em Onetti que não estivesse dentro de mim; sempre encontrei em seus livros explicações para as questões políticas; sempre encontrei em seus livros uma fonte de felicidade”, justificou.

A rica vivência da infância foi relatada pelo último conferencista, Tau Golin. “O meu nexo existencial deve-se muito ao que vivi até os 14 anos de idade”, salientou, lembrando da alfabetização tardia. “Para mim, a vivência do meio tinha mais encanto do que a pedagogia do ‘Ivo viu a uva’, que era ensinada”.

Tau Golin observou que a memória é a consagração do status quo. Por outro lado, constata que a história está em busca do significado das coisas, mas tem a impossibilidade de lidar, por exemplo, com a indústria cultural. “A memória está sempre vinculada à identidade, que é relacionada a um problema contemporâneo. Quanto à história, não temos a ambição de que ela faça a construção de novos mundos”, finalizou.

O seminário teve a coordenação do escritor Luís Augusto Fischer.

Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias