30/10/2009 - 20:05

Técnicas criativas para gostar de ler

 
No último debate da Jornada de Literatura de Passo Fundo, a chilena Constanza Mekis rouba a cena e mostra como formar leitores de uma forma divertida

Foto: Tiago Lermen/UPF
Constanza Mekis:

O último debate da 13ª Jornada de Literatura de Passo reservava uma tarde especial. No palco, com mais uma turma de especialistas que iriam falar sobre “Arte e convergência das mídias”, estava o cantor e compositor Tom Zé. Mas quem roubou a cena foi a bibliotecária Constanza Mekis, que há 15 anos se encarrega da Coordenação Nacional de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação do Chile.

Esbanjando humor, Constanza se revelou uma multiartista. Na música, ensaiou um solo de sanfona. Na sequência, adaptou a canção “Mamãe eu quero mamar” para “Professor, eu quero ler mais. Só as bibliotecas podem nos salvar”. Ao som de uma música que lembrava o folclore irlandês, puxou para o palco Alcione Araújo, um dos coordenadores da Jornada, com o qual trocou alguns passos e saltos em um pé só.

O show particular de Constanza acontecia enquanto ela contava para o público o que governo chileno está fazendo para promover a leitura no país. Em suma, todas as escolas públicas deverão ter bibliotecas nos próximos anos. A estratégia prevê, ainda, a implantação de Centros de Recursos de Aprendizagem (CRAs), unidades que contam com acervos de livros, jornais e revistas, além de estrutura com Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que, segundo Constanza, ajudam muito no processo de formação de leitores.

Para a bibliotecária, estamos vivendo numa nova sociedade, que está exigindo novas habilidades de educadores, professores e mediadores de leitura. Pela sua apresentação, ficou bem claro que a formação de leitores vai exigir muito mais criatividade, humor e energia do que qualquer tecnologia revolucionária que porventura venha a surgir.

A criatividade também esteve presente na apresentação da norte-americana Emily Short, não no estilo, como no caso de Constanza, mas no conteúdo. Pseudônimo de Mary MCmenomy, Emily é professora de Estudos Clássicos no Saint Olaf College, no estado de Minnesota, EUA, mas também trabalha com ficção interativa – uma espécie de jogo literário em que o internauta troca informações com o programa por meio de perguntas e respostas. Ao final, temos uma história, que pode ter um final feliz ou não.

Emily citou o exemplo do programa Photopia, no qual um acidente de carro mata uma menina. Em princípio, o jogo traz alternativas para o usuário que possibilitam voltar no tempo e evitar a morte da adolescente. Mas, mesmo usando todas as possibilidades que o programa apresenta, o final será sempre o mesmo. “O jogo só acaba quando o internauta percebe que ele não pode mudar o rumo da história e que ele não tem poderes para solucionar todos os problemas que se apresentam para ele”, conta Emily.

Ainda explorando literatura e tecnologia, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alckmar Santos, falou sobre seu trabalho de criação literária utilizando as novas mídias. Ele apresentou seu último projeto – “Pequeno jornal de coisas desimportantes” – no qual simula um jornal tradicional, substituindo as seções como editorial, horóscopo e até anúncios por pequenos poemas.

Alckmar considera que a sociedade passa por uma fase de saturação tecnológica que nos leva, paradoxalmente, a um “atraso no progresso”. “Há tanta informação e tantos recursos tecnológicos que o ser humano não dá conta de usar e aproveitar todo esse arsenal que está a nossa disposição. E isso, de certa maneira, gera uma dificuldade para irmos adiante. Para podermos avançar, seria preciso travar um pouco a velocidade e a quantidade de coisas que surgem diariamente, voltar um pouco e analisar o que foi feito lá atrás, de bom e de ruim”, avalia o professor da UFSC. Ele não vê isso, no entanto, de uma forma catastrofista. “Não creio que as novas tecnologias devam ser vistas do ponto de vista de que tudo ali é benéfico ou nocivo, como tem sido o tom da maioria das discussões sobre esse tema”.

O artista plástico, designer gráfico, poeta, músico e doutor em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, Wilton Azevedo, também estava no Palco de Debates, onde apresentou um de seus trabalhos, no qual mistura poesia e imagens, com infinitas possibilidades de visualização para o internauta interagir.

Pedro Bandeira encerrou o debate no velho e bom estilo oral, ou seja, contando uma fábula. “Não podemos, como Dom Quixote, negar o progresso. De qualquer forma e mesmo com todas as tecnologias disponíveis, há um instrumento que não podemos mudar: a língua. Seja para o bem ou para o mal, a língua vai permanecer para sempre”.


Assessoria de Imprensa Jornadas Literárias