Arte e entretenimento ou arte é entretenimento? Debate entre escritores esquentou a 12ª Jornada Nacional de Literatura
29/08/2007 - 12:01
Foto: Cláudio Tavares
Conversa reuniu Marina Colasanti, Flavio Carneiro, Nelson Motta, Lúcia Araújo, Maurício Melo Junior, além dos coordenadores dos debates,

Bate-papo descontraído entre escritores questiona a relação entre arte e entretenimento e analisa a produção em massa de produtos culturais. Dissociar os dois elementos? Priorizar a arte e crucificar o que é produzido em série e facilmente digerido? Os escritores convidados da 12ª Jornada Nacional de Literatura tentaram responder a essas questões na noite de ontem, dia 28 de agosto, em Passo Fundo.
 

O debate sobre o que é arte e o que é entretenimento e todas as questões sobre a relação entre os dois marcou a noite de ontem, dia 28, na 12ª Jornada Nacional de Literatura, em conversa que reuniu Marina Colasanti, Flavio Carneiro, Nelson Motta, Lúcia Araújo, Maurício Melo Junior, além dos coordenadores dos debates, Alcione Araújo, Júlio Diniz e Ignácio de Loyola Brandão. Guimarães Rosa, Mario de Andrade, Clarice Lispector, Rubem Fonseca, Os Simpsons, Paulo Coelho e as novelas estavam no centro da discussão do palco Arte e Entretenimento.

A idéia era discutir se arte e entretenimento são a mesma coisa e se uma é superior à outra. A escritora Marina Colasanti sugeriu que arte é entretenimento. “É o que nos tira do espaço cotidiano e nos leva para um espaço de prazer, de fruição”. Para ela, os dois nasceram juntos nos mitos, nos rituais e nas celebrações religiosas. “Ali nasce a música, a dança e a poesia. Até que o mercado apareceu e agora os dois lados tentam se encontrar”, disse Marina.

Escritor e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Flavio Carneiro comentou que o distanciamento entre literatura e entretenimento foi reforçado pelo movimento Modernista. “Mas a idéia de que um romance pode ser um folhetim está voltando, estamos resgatando o prazer de ler e contar história deixado para trás no século IX”. Ele disse ainda que Luis Fernando Verissimo e Rubem Fonseca, por exemplo, fazem literatura de uma forma séria e engraçada e que por isso a questão arte ou entretenimento é uma proposição falsa.

Lúcia Araújo, jornalista e gerente do Canal Futura, comentou que hoje um museu consegue abrigar, num mesmo espaço, mostras de arte erudita e de arte popular. Nelson Mota disse que sempre se coloca no lugar dos leitores. “O que busco como leitor? Um livro que me leve para outro mundo, que me alegre, que tenha coisas que eu gosto”, disse. Ele espera que seu trabalho possa alegrar, emocionar e ensinar algo às pessoas. Não quero fazer arte. Se eu conseguir fazer um bom entretenimento...” E completou: “Sempre fui pop!”

O escritor Alcione Araújo comentou a apropriação em escala industrial de produtos culturais, que começam a perder o olhar pessoal de mundo do homem. “A indústria do entretenimento tem a obrigação de produzir alegria e acaba tirando o senso crítico da pessoa; busca na audiência o que ela quer e lança no mercado”.

Para Marina Colasanti, o conceito de arte foi sendo detonado no pós-moderno. “Tudo é arte. E se tudo é arte, nada é arte”. Diz mais: “A beleza da arte é dialogar com as pessoas. Antes emanava de pessoa para pessoa; hoje, emanam das agências de publicidade”, disse a escritora.

O jornalista e apresentador do programa Leituras, da TV Senado, acredita que não há incompatibilidade entre uma coisa e outra. “No final, o que fica? Somente a arte construída com competência”. Flavio Carneiro contou que a partir dos anos 80 a ficção começou a buscar uma sofisticação, mas também um conceito de entretenimento. “Você pode ler com um prazer leve ou pesado. Entretenimento pode ser o prazer mais desinteressado”.

E como o público é feito de pessoas, cada um na sua individualidade, ele consegue discernir o que é bom e o que não é e até interfere na programação da televisão, por exemplo. “Devemos incentivar as experiências que estão estimulando as pessoas a buscarem novas fontes de entretenimento”.