Escritores gaúchos debatem Literatura de Invenção na Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo
29/08/2007 - 18:41
Foto: Tiago Freddo
Segundo dia debateu sobre Literatura de invenção

No debate, a interferência do leitor no processo criativo, as novas possibilidades e o perfil dos autores nesse contexto. Alfredo Aquino, por exemplo, aposta na investigação e pesquisa para apresentar algo inovador.
Literatura de invenção foi o tema do segundo dia do Encontro Estadual de Escritores na Jornada de Passo Fundo. Nesta quarta (29), o assunto dividiu a opinião de autores, leitores e professores. A atividade paralela foi realizada no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade de Passo Fundo (UPF) e termina nesta sexta-feira (31).

Para abrir literariamente o debate, o representante do curso de Letras da UPF, professor Eládio Weschenfelder, buscou em Drummond os seguintes versos: “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali”. Com essa inspiração, juntaram-se a ele, o coordenador do debate, Luís Augusto Fischer e os autores Alfredo Aquino, Cláudia Tajes, Paulo Ribeiro e Sergio Capparelli.

Fischer deixou claro mais uma vez a intenção do Encontro, de sistematizar debates entre escritores que tenham vínculos e relações peculiares com o Rio Grande do Sul e que até então só se expressavam pelas letras e livros.

Entre os convidados, o artista plástico e escritor Alfredo Aquino traçou um paralelo entre literatura e artes plásticas. “Discutir invenção é ir direto ao público, a parcela mais importante do fenômeno cultural. Temos que tentar surpreender, acrescentar algo na vida de quem aprecia qualquer tipo de obra”, afirmou Aquino. O escritor aposta na investigação e pesquisa para apresentar algo inovador, mas lembra que é o público que elege a obra, faz o julgamento e tem o entendimento final.

Dois estreantes nas Jornadas literárias debateram idéias opostas durante o Encontro: Claudia Tajes e Paulo Ribeiro. Ela, redatora de propaganda, autora de cinco livros e roteirista de séries como Antonia (Rede Globo) e Mandrake (HBO). Ele, jornalista, doutor em literatura, professor universitário e autor de obras como Glaucha, Vitrola dos Ausentes, Iberê, Valsa dos Aparados e Missa para Kardec e Quando cai a neve no Brasil entre outros.

Claudia deixou claro seu gosto por clássicos e revelou não ter tido estímulo para a invenção. “Fui criada em meio a um espaço formal. Sou muito classe média para inventar. Gosto dos clássicos, da linearidade, da mesma forma que aprecio as maluquices de alguns autores”, declarou a autora.

Contrário às opiniões de Claudia, o escritor Paulo Ribeiro proclamou o fim da literatura linear. “Se é para escrever com começo, meio e fim, tudo certinho, eu não escrevo. Temos que criar alguma alternativa. Não precisamos de outro Cambará ou de outra Ana Terra”, afirmou Ribeiro, citando Érico Veríssimo, que considera o gaúcho que melhor utilizou a linearidade em suas obras. Paulo também fez referência à influencia do leitor, que segundo ele deve ser inventivo para poder enfrentar o novo.

“Literatura de invenção entre uspeanos e púcaros”. Essa foi a temática desenvolvida por Sergio Capparelli no debate entre os gaúchos. O autor fez referência ao modelo clássico referendado pela USP e o trabalho mais inventivo realizado na PUCSP. Segundo ele, tudo pode ser considerado invenção, sendo que algumas avançam mais e outras menos. Sobre as novas tecnologias e suas influências nesse processo, Capparelli aponta outro olhar: “As novidades sem dúvida provocam muitas coisas, mas estamos esquecendo a interferência da própria sociedade na criação das novas tecnologias, quando estas atendem as demandas das pessoas. O escritor deve pensar da mesma forma”, finaliza o autor que vive no Estado há mais de 40 anos e atualmente trabalha em um novo romance: “E ai mau? Tudo bem?”.

Programação do Encontro Estadual de Escritores
Quinta-feira (30 de agosto)
O local, o nacional — temas, mercados, histórias
Daniel Galera
Fabrício Carpinejar
Letícia Wierzchowski
Moacyr Scliar
Charles Kiefer

Sexta-feira (31 de agosto)
Escrever à sombra dos grandes — a tradição local da literatura e a criação individual
Aldyr Schlee
José Clemente Pozenato
Kledir Ramil
Monique Revillion