Um palco transcendente debate a arte na Jornada de Passo Fundo
30/08/2007 - 12:51
Foto: Claudio Tavares
Debate aconteceu no Circo da Cultura, em Passo Fundo

Segundo Affonso Sant’Anna, o que atualmente é feito pela teledramaturgia precisa ser melhorado para que haja a transcendência. Já Mario Sabino quer que o olhar seja para dento e não para fora.


Para analisar o que as diversas manifestações artísticas provocam em seus apreciadores e como fazem isso, Affonso Romano Sant’Anna, Lúcia Bettencourt, Lya Luft, Mariana Ianelli e Mario Sabino subiram no palco do Circo da Cultura da 12ª Jornada Nacional de Literatura, na noite de quarta-feira, 29 de agosto, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Tendo como coordenadores, Alcione Araújo, Júlio Diniz e Ignácio de Loyola Brandão, os convidados expuseram suas idéias e propostas afirmando que transcender não é uma quimera. Com o mote “Arte e transcendência”, os debatedores contribuíram para o pensamento crítico de cerca de cinco mil pessoas, que lotaram as cadeiras e arquibancadas sob a lona colorida.

Com uma didática de professora, a escritora Lya Luft preferiu demonstrar como a literatura age em seus leitores. O exemplo escolhido foi quando recebeu como homenagem ser o nome da biblioteca do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Convidada pela direção da casa prisional para a inauguração do espaço literário, teve que dizer algumas palavras para as detentas: “Falei a elas que a única coisa que ninguém poderia tirar-lhes era a liberdade interna. Que o pensamento e a literatura as levariam para fora dali. Pra mim, isso é transcender”, resumiu Lya.

Nesse mesmo viés, a jornalista e escritora Mariana Ianelli enfatizou que o livro é uma realidade viva e, por isso, uma porta mágica que leva os leitores para universos distintos e pessoais. “O livro não é um. Cada um tem o seu, mesmo sendo a mesma obra”, explicou. De acordo com Mariana, a interpretação de cada leitor é diferente, fazendo com que novas histórias surjam quando as obras são passadas de mão em mão. Para ela, até mesmo através da palavra é possível transcender.

Entrando numa outra linha de raciocínio, o poeta Affonso Sant’Anna preferiu colocar o dedo na ferida e trazer à tona os atuais produtos da mídia para sua análise. Levando a conversa para o nicho artístico, criticou a teledramaturgia nas novelas da tevê. “Será que é só isso que podemos fazer de melhor? Se for só isso, estamos num labirinto sem saída”, disparou o poeta, olhando diretamente para o público. Segundo ele, a violência e o sexo são empregados nos filmes e novelas, pois é uma receita certa para a comercialização do produto. “O artista está sendo pouco crítico e só está absorvendo o cotidiano”, afirmou. Com essas observações Sant’Anna foi claro: “Ir além do que é feito hoje é transcender”, garantiu.

O jornalista e editor executivo da revista Veja, Mario Sabino, foi breve, mas contundente. Da teoria de Charles Darwin à preservação ambiental, Sabino afirmou que todos devem cada vez transcender menos e “introscender” mais. De acordo com o jornalista, sistemas filosóficos, ideológicos e religiosos já produziram muita desgraça. “Precisamos buscar o nosso interior”, justificou.

Mas o debate estava mesmo em volta das letras. Lúcia Bettencourt puxou a brasa para sua sardinha e não teve dúvidas em dizer que para ela a leitura é a melhor forma de atravessar para um mundo imaginário. A escritora também preferiu a literatura para interagir com o público e os companheiros de microfone. O debate em torno das obras de Guimarães Rosa num dos encontros da Academia Brasileira de Letras, durante a jornada literária, levou Lúcia a uma viagem ao passado. As narrativas do poeta mineiro ajudaram a escritora a sair do mundo real e aterrisar no seu próprio imaginário. “Acompanhando as discussões sobre Guimarães Rosa parecia que estava vivendo no século 18, mesmo, é claro, estando no século 21”, observou Lúcia. Para ela, esse passeio pelas letras é uma das formas de transcender com a arte.

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