Escritores gaúchos debatem a literatura para além do Rio Grande do Sul
30/08/2007 - 17:17
Foto: Ricardo Freddo
Escritores Moacyr Scliar, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Charles Kiefer e Letícia Wierzchowski debateram sobre o local e o nacional

Moacyr Scliar, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Charles Kiefer e Letícia Wierzchowski discutiram o tema “O local, o nacional — temas, mercados, histórias” no penúltimo dia do “Encontro Estadual de Escritores: a criação literária gaúcha em debate”, que acontece paralelamente à
12ª Jornada Nacional de Literatura.

Cinco escritores gaúchos que atravessaram a fronteira do Estado, gremistas e colorados ainda sentidos com a derrota de seus times na noite de ontem, se reuniram nesta quinta-feira, dia 30, para o Encontro Estadual de Escritores: a criação literária gaúcha em debate que integra a programação da 12ª Jornada Nacional de Literatura. Em Passo Fundo, Moacyr Scliar, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Charles Kiefer e Letícia Wierzchowski discutiram a existência de uma literatura regional, as referências geográficas em suas obras, como e onde publicaram pela primeira vez e até mesmo a opção pelo ‘tu’ ou ‘você’ nos textos.

A idéia foi reunir, nessa mesma mesa, escritores com um bom trânsito entre o Rio Grande do Sul e o Brasil. “Pessoas para quem ser gaúcho não é um problema e que pode ser até uma virtude”, disse o coordenador do encontro Luiz Augusto Fischer. O tema do encontro foi O local, o nacional — temas, mercados, histórias.

“É um contra-senso limitar nossa literatura como gaúcha”, disse Daniel Galera, autor de Mãos de cavalo, finalista do 5º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon, e de O dia em que o cão morreu. “O escritor fala do local por uma necessidade individual e não porque se deve”.

Charles Kiefer, professor e autor de 30 livros entre os quais Valsa para Bruno Stein, recentemente adaptado para o cinema, questionou: “São locais os textos passo-fundenses que caem na rede e podem ser lidos por pessoas de todo o mundo?”. Apesar de ter resistido no início em publicar seus livros fora do Rio Grande do Sul, ele não acredita nessa distinção. “Em comparação com Nova Iorque, o que é produzido em São Paulo é regional. Se comparar São Paulo com outras regiões, a cidade é multicultural”.

Todos os escritores publicaram o primeiro livro por editoras do Rio Grande do Sul. Letícia Wierzchowski, que escreveu A casa das sete mulheres e outros 12 livros, contou que suas primeiras obras saíram por editoras locais e que ao mudar para São Paulo estranhou não encontrar seus livros nas livrarias. “Quando eu voltava para o Rio Grande do Sul, era reconhecida nas ruas. Em São Paulo, eu não tinha como provar que eu era escritora”. Foi aí que resolveu procurar uma editora nacional.

Moacyr Scliar, para publicar seu primeiro livro, fez uma chantagem emocional com um amigo que era editor. “Ele achava que teria prejuízo. E ele estava errado. Primeiro porque fez poucos exemplares e depois porque minha mãe fez todo o Bonfim comprar o livro”, brincou. Ele contou ainda que sua primeira obra de fato foi uma autobiografia escrita em papel de pão aos seis anos.

Fabrício Carpinejar falou sobre mercado. “Amor e literatura não admitem dinheiro. Dinheiro suja”. De acordo com Carpinejar, a literatura é um bom negócio para as editoras e para os livreiros e o escritor é colocado acima de tudo isso. “Escritor tem casa e filhos para sustentar e contas no fim do mês. Minha posteridade é sustentar meus filhos”. Ele comentou o preconceito contra os novos escritores que são acusados de marqueteiros. “Ser marqueteiro é dividir a responsabilidade com a editora e com os livreiros. E confesso: eu sou marqueteiro!”.

Ele acredita ainda que o sucesso deixou de ser fatalidade ou sorte no meio literário e que a persistência faz o escritor. “Não havia público esperando o Rubem Fonseca. Ele mesmo criou o seu público”. Entre seus livros estão Meu filho, minha filha e O amor esquece de começar .

Como o assunto era literatura feita por gaúchos, a questão do ‘tu’ e do ‘você’ apareceu. E os convidados falaram sobre suas opções. “Penso em tu. Quando sonho, falo com as pessoas em tu. Mas para escrever uso o você”, disse Moacyr Scliar comentando que fez a concessão, que, afinal, não é tão dolorosa. Na Academia Brasileira de Letras os imortais se tratam por vós. “Um dia me disseram ‘Vós sois um escritor’ e eu disse: Quem? Eu?”, disse. “Realmente tem coisa pior do que você”.

A resposta de Daniel Galera foi rápida: “Escrevo em tu”. E corrigiu: “Meu novo romance está sendo em você”. Foi uma questão de coerência: este novo livro mudou de cenário, ao contrário de seus dois outros livros que se passavam no Sul. Fabrício Carpinejar escreve poemas em tu e crônicas em você. De todos os livros de Charles Kiefer e de Letícia Wierzchowski, os dois autores usaram o tu em apenas um romance.

Mais informações com Ivani Cardoso e Maria Fernanda Rodrigues (Lu Fernandes Escritório de Comunicação) e Maria Joana e Cristiane (assessoria de imprensa da UPF) pelo telefone (54) 3316-8110/8142