Arte, história e política. Temas de Carlo Ginzburg
31/08/2007 - 13:50
Para reconstruir um contexto histórico, Carlo Ginzburg segue caminhos não convencionais. Na conferência que deu na 12ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo, o historiador italiano fez um resgate da França nos cruciais anos da Revolução Fran
Foto: Tiago Lermen
Carlo Ginzburg fez conferência na 12ª Jornada Nacional de Literatura

As pinturas de Jacques-Louis David foram o ponto de partida para que o historiador italiano Carlo Ginzburg analisasse o que chamou de obscura relação entre arte e política na conferência que fez na 12ª Jornada Nacional de Literatura, na noite de quinta (30), em Passo Fundo. Seguindo o rastro deixado por David nas obras que retratou Marat e Le Pelletier mortos, Ginzburg ratificou a proposta da Jornada deste ano que discutiu o tema “Leitura da Arte & Arte da Leitura”, uma forma de pensar a leitura num paradigma amplo, que incorpore, como objeto, as várias manifestações artísticas e que perceba o sujeito leitor como um atuante artífice de múltiplas interpretações perante os produtos da cultura.

Ginzburg analisou a obra “A morte de Marat” - ou como preferiu o pintor “Marat em seu último suspiro” -, considerada uma das obras-primas de David, exposta no Museu Real de Belas Artes de Bruxelas. “Por diversos motivos, este é um trabalho único. Muito já foi dito e escrito sobre essa obra; uma enorme quantidade de evidências foi desterrada; mas a pintura por ela mesma, como um manifesto artístico e político, continua algo difícil de compreender”, explicou o historiador.

A partir da data da pintura, Ginzburg começou a analisar todo o contexto histórico da Paris daqueles dias para tentar reconstruir o cenário e entender tanto a realidade quanto a ficção. Carlo Ginzburg é reconhecido como um dos precursores da micro-história, que adota uma escala de observação reduzida e que através da análise do pequeno acaba por fazer emergir o grande, ou seja, as características da sociedade da época estudada.

Intercalou, então, comentários sobre detalhes da pintura como a inclinação da cabeça, a pena na mão, o sangue, a banheira e a faca com informações sobre a Revolução Francesa, o julgamento e morte de Luis XVI que contou inclusive com o voto decisivo de David contra a suspensão da sentença, o esfaqueamento e morte de Michael Le Pelletier de Saint-Fargeau depois de assumir ter votado pela execução de Luis XVI; o papel de Jean-Paul Marat na revolução, seu assassinato e tudo o mais que o cercava.

“O caráter estilístico e o iconográfico de ‘Marat em seu último suspiro’ são claramente o resultado de uma série de escolhas deliberadas. O que ele fez não foi somente uma pintura política, mas também um ato político”, disse Ginzburg.


CARLO GINZBURG
Carlo Ginzburg, filho do professor e tradutor Leone Ginzburg e da romancista Natalia Ginzburg, nasceu em Turim, em 1939. Durante duas décadas, foi professor de história moderna na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Em 2006, voltou à Itália para lecionar na Scuola Naormale Superiore de Pisa. Pubçlicou no Brasil os seguintes livros: O queijo e os vermes; Os andarilhos do bem; Mitos, emblemas, sinais; História Noturna; Relações de força, Nenhuma ilha é uma ilha, Olhos de Madeira e O fio e os rastros.

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