Arte de rua sobe ao palco da 12ªJornada Nacional de Literatura
31/08/2007 - 21:44
No encerramento dos debates, o hip-hop e o grafite roubaram a cena no Circo da Cultura.
Foto: Tiago Lermen/UPF
Opiniões, manifestações, música e a arte da rua subiram ao palco de debates nesta sexta-feira

Opiniões, manifestações, música e a arte da rua subiram ao palco da 12ª Jornada Nacional de Literatura na última tarde para quem celebra o livro, a leitura, o escritor, as artes, a cultura e em especial, a literatura. No centro do palco, o rapper e autor Ferréz dividia o debate com o passo-fundense Juliano Crivello, representante do movimento hip-hop. Logo ao lado, uma grande parede branca foi totalmente grafitada por dois artistas locais. O último debate, coordenado por Alcione Araújo, Júlio Diniz e Ignácio de Loyola Brandão, teve ainda a participação do diretor da Faculdade de Artes e Comunicação da UPF, professor Cezar Augusto Azevedo dos Santos.

Alcione Araújo contextualizou a temática do debate. Segundo ele, as cidades cresceram e os espaços destinados a uma possível arte também foram ampliados. “A existência de novos espaços representam novas possibilidades de linguagens, como as que veremos hoje”, comentou Araújo. O autor ainda fez referência a produção da cultura na periferia, berço de diversas artes e movimentos, que acabam se tornando referencia e são muito significativas localmente.

O convidado da tarde, escritor e rapper Ferréz, se enquadra nos itens apresentados por Alcione Araújo. Seu primeiro livro só foi impresso graças à dona da empresa que trabalhava. Entretanto, no dia do lançamento Ferréz foi demitido. “Eu comecei colando poesias sobre os comunicados da empresa fixados nas paredes. Quando meu livro chegou da revisão todas as palavras estavam circuladas, mas minha essência estava naquelas páginas”, comentou Ferréz.

Suas obras retratam a rotina de violência na periferia paulistana. Devido ao trabalho realizado por ele e outros artistas locais, Capão Redondo vem se transformando num espaço de manifestações culturais, ligado ao movimento hip hop. “As pessoas têm que entender esse tipo de cultura. O que não pode existir é a intolerância e o preconceito. Meu filho entende o que escrevo, o problema são os professores que não preparam as crianças antes de ler os livros”, comentou. Ferréz ainda sugere: “A literatura tinha que estar na cesta básica, com um livro junto aos alimentos”.

Quem acompanhava o debate conheceu o que existe de cultura nas periferias do Brasil e de Passo Fundo. Juliano Crivello de Oliveira representou a entidade Nação Hip-Hop Brasil com núcleo na Capital Nacional da Literatura. Enquanto apresentou sua realidade e a forma como cultura é aliada da cidadania, seus colegas Rafael Ferrão e Ivan Antonio da Silva grafitaram um painel instalado em pleno Circo da Cultura.

Entre batidas de rap e hip-hop, a platéia de mais de três mil pessoas participou e aplaudiu os versos que representam a voz da periferia de todo o Brasil. “As nossas letras atacam o rim do sistema. Elas denunciam ao mesmo tempo em que propõem transformação”, declarou Juliano Crivello.

Entre outros pontos discutidos, a veiculação da “arte de rua” na mídia e a inserção de manifestações como o grafite nas paredes e monumentos públicos. “Condeno o vandalismo, mas não podemos esquecer que também é arte, mas no lugar errado”, disse Ferréz.